Floresta Nacional de São Francisco de Paula/RS 

A Floresta Nacional de São Francisco de Paula (FLONA - SFP; 29° 25’22,4’’S; 50° 23’11,2’’W), administrada pelo ICMBIO - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, constitui-se em uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, caracterizando-se como uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas. O objetivo básico das Unidades de Conservação de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais (Lei 9.985/2000). A FLONA de São Francisco de Paula localiza-se no município de mesmo nome (no nordeste do Rio Grande do Sul), caracterizado pelos Campos de Cima da Serra e pelas Matas com Araucária (Floresta Ombrófila Mista) que são uma fitofisionomia da Mata Atlântica. A região é uma das mais úmidas do estado, com pluviosidade superior a 2.000mm e com temperatura média anual de aproximadamente 14,5° C.

A FLONA-SFP tem uma área de 1.606 ha, com altitudes superiores a 900 metros, apresentando uma variação altitudinal de 300 metros. Esta Unidade é parte da área abrangida pela Reserva da Biosfera da Mata Atlântica como Área Núcleo, sendo considerada uma região de “alta” a “altíssima prioridade” para a conservação pelo Workshop de Áreas Prioritárias para a Conservação da Mata Atlântica (MMA, 2001). Ela está estrategicamente inserida no Corredor Ecológico do Rio dos Sinos, entre os Corredores Ecológicos dos rios Caí e Tainhas (Patrimônio Natural da Região das Hortênsias, Projeto Hortênsia, METROPLAN e CPRM, 1995). O conjunto de várias UCs estabelecidas ou em processo de implantação (áreas públicas: Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, Reserva Biológica da Serra Geral, Estação Ecológica de Aratinga, Florestas Nacionais de SFP e de Canela, Parque Turístico do Caracol, Parque Estadual do Tainhas, Área de Proteção Ambiental da Rota do Sol, Reserva Biológica da Mata Paludosa, Parque Natural Municipal da Ronda; área particular: Reserva Particular de Patrimônio Natural Pró-Mata - PUCRS) abrangidas em um raio de 60 km, forma um grande e importantíssimo “arco” e corredor de biodiversidade ao longo das escarpas do planalto.
Na FLONA-SFP são encontrados reflorestamentos de Araucaria angustifolia (390 ha, ou seja, 24% da área total), Pinus taeda e Pinus elliottii (229 ha, 14 % da área total), Eucalyptus (34 ha)  e outras essências com fins comerciais , totalizando uma cobertura de pouco mais de 600 ha. Contudo, a floresta nativa ocupa mais de 900 ha. Também ocorrem pequenos trechos de campo nativo e banhado. Este mosaico de ambientes naturais e construídos, juntamente com o gradiente altitudinal, resulta em uma considerável riqueza de espécies. Entre os elementos faunísticos, destaca-se a grande riqueza da avifauna, composta por mais de 260 espécies, residentes ou migratórias, e a presença de mamíferos ameaçados de extinção, como o leão-baio (Puma concolor) e o bugio-ruivo (Alouatta guariba). Também já houve na unidade registro da presença do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na FLONA SFP, tanto avistamentos de indivíduo com filhotes, como registro fotográfico de indivíduo através de armadilhas fotográficas (ver citação de ocorrência em Marques, R.V. & Fabián, M.E. 2010. Atividade, uso de habitat e abundância relativa de canídeos silvestres na FLONA de São Francisco de Paula, RS com monitoramento através de armadilhas fotográficas. Resumos do V Congresso Brasileiro de Mastozoologia, São Pedro, SP, 19 a 23/09/2010. p.423-425).

Mais de 20% das espécies terrestres da fauna ameaçada de extinção do Estado (Dec. 41.672/02 já foram registradas na FLONA-SFP ou em seu entorno próximo, bem como espécies de árvores e arbustos ameaçadas. Com respeito a sua vegetação nativa, apesar desta sofrer grande influência da floresta atlântica, ela apresenta espécies de origem andina e antártica como, por exemplo, a casca d’anta (Drimys winteri) e a própria araucária (Araucaria angustifolia).

Diversas são as atividades desenvolvidas na FLONA SFP. A exploração dos recursos florestais visa uma produção madeireira média de 10.000 mst de madeira/ano, conforme previsto em seu Plano de Manejo, sendo também exploradas a semente da araucária (pinhão) e a samambaia-preta, buscando sempre a sustentabilidade da exploração. A FLONA SFP recebe grupos através de agendamento prévio e disponibiliza alojamento, conforme a necessidade, e mediante pagamento de taxas. Entre estes, alunos de escolas da região ou da grande Porto Alegre, alunos de graduação e pós-graduação de universidades do Estado, pesquisadores e visitantes. No momento, pesquisadores de oito universidades (UFRGS, UNISINOS, PUCRS, UFSM, UFP, USP, UFRJ e UFPEL), além da Fundação Zoobotânica, desenvolvem atividades de pesquisa na Floresta Nacional de São Francisco de Paula.

Duas trilhas ecológicas são disponibilizadas aos visitantes, com a possibilidade de acompanhamento de um guia da FLONA, além de hospedarias para grupos de alunos e pesquisadores. As trilhas dão acesso as araucárias centenárias, à cachoeira Bolo de Noiva e ao mirante, com vista para a Cascata da Usina, Perau do Macaco Branco, floresta nativa e povoamento de araucária de 1946.

Depoimentos 

Professor Albano Backes 

“A FLONA de S. Francisco de Paula tornou-se uma extensão praticamente direta das salas de aula da Universidade (UNISINOS) e se converteu num gigantesco laboratório a céu aberto para inúmeras atividades (...) favorecido pela excelente receptividade e apoio logístico por parte da direção da Unidade de Conservação, acessibilidade, infra-estrutura de alojamento, de deslocamento dentro da floresta e um grande respeito pelo projeto de cada um e de cada grupo, sem, no entanto, deixar de compartilhar as experiências e os resultados entre todos os interessados."

Pesquisadora Rosane Marques 

“A FLONA de São Francisco de Paula tem se demonstrado uma Unidade de Conservação (UC) de grande relevância para a manutenção da biodiversidade nacional, inclusive de espécies ameaçadas de extinção e que não suportariam qualquer pressão de caça. (...) A fácil divulgação dos resultados das pesquisas para as pessoas que visitam a FLONA SFP (escolas, universitários, turistas) é mais um fator importante, pois democratiza o compartilhamento de informações com a população que, normalmente, não teria outro acesso ao conhecimento científico e sobre a biodiversidade que é um patrimônio de todos.”

Professora Sandra Hartz 

“Desde 1997 realizo atividades didáticas com alunos do Curso de Ciências biológicas desta Universidade na FLONA SFP, desenvolvendo com eles inúmeros projetos de  pesquisa, (...) com isso, a FLONA SFP contribuiu com a formação de mais de mil profissionais na área biológica e de meio ambiente, só considerando a UFRGS, (...) em parte advindo destas atividades didáticas, projetos de pesquisa foram gerados, onde Mestres e Doutores foram formados e realizaram suas atividades de estudo na FLONA SFP. (...) declaro também que sem dúvida,  FLONA SFP é a Unidade de Conservação do Estado do RGS que mais eficientemente executa as suas atribuições legais, declaradas no SNUC.” 


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